Por Vanessa Ferreira
Realizei o registro fotográfico documental dos bastidores do Concurso “A mais bela negra de Ubatuba” na Semana da Consciência negra do ano de 2022. Este concurso aconteceu no intuito de elevar a autoestima da mulher negra, fortalecer sua identidade e representatividade. Observei que existem inúmeras críticas sobre o fundamento destes concursos.
Por uma perspectiva, são modelos de ações que desejam padronizar algo que luta por um espaço de diversidade (uma contradição) e no fim o resultado não é positivo pois finaliza no julgamento e exclusão. Acirram disputas entre mulheres. Esse modelo de evento é considerado antigo e excludente, dita as formas pelos quais os corpos e os rostos das mulheres devem se adequar para atender a critérios aleatórios. A mulher negra já foi muito exposta aos critérios de senhores. Considerado desnecessário e nocivo.
Enquanto por outro olhar, acredita-se que não deixa de ser uma forma de mostrar à sociedade que existe a beleza negra na cidade. Busca a valorização da mulher, tanto de sua função dentro do seu grupo social, quanto dos seus aspectos físicos e morais, o que compreende questões como a valorização de uma beleza que ainda é por muitos desconsiderada ou não aceita; mas principalmente fazer com que através do concurso as jovens mulheres compreendam e internalizem valores socioculturais afro-brasileiros de modo a fortalecer os laços que permitem a continuidade desses grupos.
O que não há dúvidas é que existe uma dívida histórica com as mulheres negras desse Brasil. Há um longo caminho a ser percorrido. Os concursos, em outro formato e com critérios claros, não isolados de outros eventos provocadores, seriam mais um elemento de reflexão para a aceitação da negritude própria e dos outros. O debate e a informação são partes fundamentais. O que não podemos é deixar de falar sobre a herança histórica da formação de nosso país. O percurso dessa estrada se faz também através da percepção estética, do respeito e da visibilidade do que é ser negro.
“Assumir a estética negra, com seus traços, textura capilar e cor da pele, tem deixado de ser motivo de opressão e se tornado sinônimo de resistência para as mulheres negras.” Djamila Ribeiro
Vanessa Ferreira / Fotografia Documental "Bastidores da Resistência"